segunda-feira, 12 de abril de 2010

UMA CONVERSA NO ESCURO


Era evidente que telefonara para relatar algo importante, dada a hora em que decidiu romper o silêncio da sala de estar de Magnólia. Alguns segundos já tinham se passado e apenas a sua respiração ansiosa denunciava a autoria do telefonema, pelo menos para Magnólia não restavam dúvidas. Ela sabia que aquela respiração já esteve próxima o bastante para não deixar-se confundir. Assim aguardava - também em silêncio - ver partir do outro lado da linha a coragem da primeira palavra.
- MAGNÓLIA!!!
O silêncio de meses fora rompido. Aquela voz tão doce novamente dizia seu nome, tantas coisas passavam por sua cabeça, ela mal podia acreditar. Mas... Deveria ter medo e ser cautelosa. Ou não?
A voz chamou-lhe novamente.
- Magnólia, precisamos nos encontrar com urgência. Não posso mais adiar. Estarei a sua espera no ponto de táxi do Terminal Rodoviário, encontre-me sem demora.
- Nã...
E antes mesmo que pudesse responder, o diálogo foi encerrado pelo autor da ligação.
Encontrá-lo depois de tanto tempo, depois de ter determinado para si que nunca mais ficariam frente a frente. Mas, e se não fosse vê-lo? Talvez ele pudesse passar a insistir mais do que as ligações que, diversas vezes na noite, causavam-lhe taquicardia. Não ousava desligar o telefone porque também era um modo de saber se ele ainda continuava vivo.
O que aos poucos lhe tirava a própria vida, estava terrivelmente abatida e assustada com a situação.
Com saudade buscava na mente ouvir o modo como ele pronunciou seu nome ao telefone, como era bonita a sua voz grave e doce ao mesmo tempo. Lembrou-se de ter sido surpreendida por aquela voz quando se conheceram, pela virilidade da sua voz. Mas, agora tudo estava mudado, apenas o timbre da voz parecia ser real, suas palavras eram duvidáveis.
Ele a queria ter a qualquer custo. MESMO QUE LHE CUSTASSE A VIDA.